O Ministério Público de Frutal (MG) denunciou os familiares da menina de cinco anos que morreu queimada durante um ritual na casa dos avós maternos, no bairro Princesa Isabel, em 23 março deste ano. Mãe, avó, tia e avô da criança, além do guia espiritual e do assistente dele foram denunciados por homicídio triplamente qualificado.

A menina teve quase 100% do corpo queimado após receber uma infusão de álcool misturado com ervas pelos cabelos. A família teria procurado o guia para fazer o ritual devido à "baixa imunidade" da criança. Quando foi passada uma vela perto do corpo, houve a combustão. Ela chegou a ser transferida ao Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto, mas morreu no dia seguinte.

Para o promotor Rogério Maurício Nascimento Toledo, o crime foi praticado em contexto de violência doméstica e familiar envolvendo uma criança, com emprego de fogo e recurso que dificultou a defesa da menina.

Os advogados da família, por outro lado, dizem que vão provar na Justiça a inocência dos familiares da menina. A defesa sustenta que as queimaduras na garota foram ocasionadas por acidente e que jamais imaginaram que ela fosse morrer.

A criança saiu da residência andando e conversando, nunca tiveram a intenção de ferir a filha, sobrinha e netinha, sempre foram zelosos com sua criação, pessoas extraordinárias, bem quistas, com reputações ilibadas, trabalhadora", afirmam os advogados, José Rodrigo de Almeida e Juliane Martins do Carmo.

A denúncia do Ministério Público foi encaminhada ao juiz da 2ª Vara Criminal de Frutal. Por conta da idade e de problemas de saúde, que teriam se agravado com a morte da neta, a Justiça concedeu aos avós da menina o direito de responder em liberdade. Os demais parentes da criança continuam presos em Frutal e Uberaba, Minas Gerais.

Nada foi premeditado', diz advogada

A advogada Juliene Sabino, que faz a defesa do guia espiritual, afirmou ao Diário que nada foi premeditado e entende que o religioso não teve a intenção de matar a criança.

Foi um acidente realmente. Um momento de muita dor, de sofrimento e de tristeza. Todo mundo está vendo o sofrimento, até a gente fica emocionada e se solidariza com ambas as famílias. Ele benzia as pessoas. A gente não sabe, se pela fé ou pela ciência, muitas pessoas vieram a se salvar e colocaram fé nele, mas infelizmente foi um acidente o que aconteceu", afirmou advogada.

Antes do ritual que terminou na morte da menina, três pessoas do mesmo grupo familiar teriam contraído Covid-19, chegaram a ser intubadas e, em outras consultas com o mesmo guia, acreditam que foram curadas da doença.

Família alega medo de intolerância

Inicialmente, a versão contada pelos familiares da criança era de que a criança havia se queimado em um acidente doméstico com uma churrasqueira, durante um churrasco na casa dos avós maternos.

O delegado Murilo Antonini desconfiou da versão e abriu inquérito depois que o pai da menina ficou sabendo do acidente e procurou a polícia, que constatou que as queimaduras haviam sido provocadas em um ritual.

Os advogados defendem que a família ocultou a real situação por medo da repercussão negativa e de intolerância religiosa, tendo em vista que os avós tinham o costume de fazer benzimentos.

O laudo necroscópico apontou que a criança teve queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau, atingindo inclusive as vias respiratórias. A criança foi socorrida no hospital Frei Gabriel e depois transferida ao Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto, onde morreu.

Segundo a denúncia do Ministério Público, os envolvidos teriam feito modificações no local onde a criança sofreu as queimaduras. "Eles se reuniram e ocultaram os instrumentos utilizados, simulando a versão de acidente doméstico durante um possível churrasco, demorando, inclusive, no socorro à vítima", diz trecho da denúncia.

O episódio é sim, lamentável, uma vida foi ceifada, tudo isso é muito sério, mas o contraditório, o direito à defesa, entregar a cada um sua pena, quando devida e merecida, na medida daquilo que efetivamente praticaram, de acordo com a sua participação, é o justo, a realidade dos fatos se fará presente com a prova da inocência desta família que sofre, dilacerada, pela perda da M.F. e pela prévia condenação de parte da sociedade", afirmam os advogados da família.

Reconstituição

Durante a reprodução simulada dos fatos que durou sete horas, no dia 16 maio, na casa dos avós maternos, participaram os seis denunciados, a avó de Maria Fernanda passou mal e foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros. Um manequim simulando a vítima também foi utilizado. O objetivo da reconstituição é confrontar os depoimentos com a reprodução visual in loco do que de fato aconteceu na noite do ritual que terminou em tragédia envolvendo a menina. O julgamento ainda não tem data definida.

Diarioregiao

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